Na operação que terminou com sete mortos no
Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, somente
homens das Forças Especiais do Exército fizeram disparos. A versão foi
apresentada por três agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) na
Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), na tarde do último
sábado. De acordo com os depoimentos, os policiais civis não deram tiros
durante a ação conjunta, na madrugada de sábado. Na ocasião, havia um baile
funk na favela. Os corpos, entretanto, foram encontrados a cerca de três
quilômetros do local do baile.
Todos os mortos foram encontrados por peritos
da DH na Estrada das Palmeiras. Fotos da perícia obtidas pelo EXTRA revelam que
dois dos corpos foram atingidos na garupa de uma moto. Uma das vítimas estava
dentro de um carro quando foi baleada. Outras duas estavam sobre o asfalto. Já
as duas restantes estavam dentro de uma mata. Agentes da DH agora querem saber
militares entraram na mata durante a operação.
— Os agentes da Core alegam que sequer fizeram
disparos. Pelo que está sendo apurado, foram os militares que participaram do
confronto — afirma o delegado Marcus Amim, responsável pela investigação.
A apuração dos assassinatos, entretanto, já
começou prejudicada, segundo Amin. Por conta da lei que transfere para a
Justiça Militar o julgamento de crimes contra a vida cometidos por homens das
Forças Armadas em missões de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), sancionada pelo
presidente Michel Temer no mês passado, a Polícia Civil não tem atribuição para
investigar militares. Por isso, os homens do Exército que participaram da ação
ainda não foram ouvidos na DH.
— Isso atrapalha a minha investigação. Eu
preciso de todas as partes envolvidas para montar o cenário. Quando não tenho
uma das peças, isso dificulta a reconstituição do que aconteceu — acrescenta o
delegado.
Ao todo, 15 agentes da Core participaram da
operação. Ao longo da semana, todos os agentes serão ouvidos na especializada.
O número de militares que esteve no local ainda não foi passado à DH. Todas as
sete vítimas foram identificadas pela Polícia Civil. O EXTRA localizou as
famílias de cinco delas. Quatro negam o envolvimento de seus parentes com o
tráfico.
As famílias de dois dos mortos — Victor Hugo
Castro Carvalho, de 28 anos, e Marcelo da Silva Vaz, de 31 — disseram que ambos
eram motoristas de Uber. De acordo com seus parentes, Victor Hugo estaria
levando passageiros para o baile funk da favela, quando foi baleado.
— Eu tinha receio que ele trabalhasse à noite e
pedia para não ir. Mas ele não tinha medo — conta a mulher de Victor Hugo,
Marcelle de Holanda.
Já os parentes de Marcelo Vaz afirmam que ele
estava de folga no momento do crime, ao lado de Bruno Coelho, de 26 anos,
também morto no tiroteio. Os dois estavam em uma moto quando foram atingidos.
— Ele não frequentava baile e nunca tinha nem
dormido fora de casa. Ele e o Marcelo eram amigos e não tinham envolvimento com
o crime — afirma Paulo César Coelho, pai de Bruno.
Já Rogério de Oliveira, que é pastor da Igreja
Evangélica Quadrangular, em Nova Iguaçu, afirma que seu filho, Lorran de
Oliveira Gomes, de 18 anos, voltava de moto da casa da namorada quando foi
baleado.
— Ele era só um menino que morava numa
comunidade — desabafa o pastor.
A mãe de Márcio Melanes Sabino, de 21 anos,
admitiu que seu filho era envolvido com o tráfico. Parentes de Luiz Américo da
Silva, de 46 anos, e Josué Coelho, de 19, não foram encontrados.
De acordo com nota conjunta da Polícia Civil e
do Comando Militar do Leste (CML), a operação conjunta teve a participação de
um blindado da Core e outros dois do Exército. Ainda segundo o texto, houve
“resistência armada” por parte de traficantes no local. Foram apreendidos,
durante a operação, um fuzil, sete pistolas, cinco carregadores, munição,
rádios, drogas e celulares.
O coronel Roberto Itamar, porta-voz do Comando
Militar do Leste (CML), informou que as Forças Armadas acompanham as
investigações da Polícia Civil, e, caso haja algum indício de crime por
militar, o CML pode abrir procedimento para investigar.
Fonte: G1
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