Denice Santiago Santos do Rosário, mais conhecida como Major Denice Santiago, é uma policial militar e psicóloga do estado da Bahia, região nordeste do Brasil.
Santiago foi a criadora da Ronda Maria da Penha, um programa da Polícia Militar da Bahia. Ela é reconhecida por suas ações pioneiras de combate à violência doméstica e ao racismo e pela promoção do feminismo.
Oriunda de uma família de baixa renda, Santiago foi estimulada por seu pai a ingressar na carreira militar depois de concluir o ensino médio em 1990. Ela iniciou a carreira como sargento na primeira turma de praças femininas da Polícia Militar da Bahia (PMBA) e depois de dois anos participou da primeira turma aberta para oficiais mulheres.
Santiago se graduou em psicologia na Universidade Federal da Bahia, onde também cursou mestrado em Desenvolvimento e Gestão Social. Ela foi promovida a major da PMBA em 2016.
Autora de vários projetos de defesa e proteção social direcionado para minorias, especialmente as mulheres, a Major Denice Santiago se apresenta como fortíssima candidata para prefeitura de Salvador.
Por dois anos, a empresária Lívia Aragão, 42, viveu presa na própria casa, em Salvador (BA). Com medo de seu ex-marido e agressor, ela vedou algumas janelas com tijolos, instalou um grande portão de ferro e, paralelo a ele, grades. Tudo trancado com múltiplas correntes e cadeados para evitar que a longa lista de violências que sofreu se repita. Só para citar algumas: o homem a ameaçou de morte diversas vezes e chegou a apontar armas para os filhos do casal — uma menina de 13 anos e um menino de 12.
"Eu tinha medo de colocar o pé para fora. Nas poucas vezes em que saí durante aquele período, quase fui atropelada e recebi ameaças de linchamento", diz a baiana que hoje já faz saídas mais longas, mas ainda vive sob medida protetiva (instrumento legal que impede homens agressores de chegarem perto das vítimas enquanto respondem a processos por violência contra mulher). "Se eu estou viva, é graças a Denice e aos policiais que trabalham com ela", diz.
Lívia é uma das 5.700 atendidas pela Ronda Maria da Penha, equipe especial criada há quatro anos pela Major Denice Santiago. Trata-se de um serviço da Polícia Militar da Bahia dedicado a garantir a segurança de mulheres que vivem sob ameaça permanente de seus agressores. Sob sua batuta também foi criada a Ronda para Homens. São Encontros com agressores ministrados por policiais masculinos. "São homens conversando com homens pelo fim da violência", diz.
Seu efetivo conta com 108 policiais que atuam em todo o estado baiano. Já a major estava baseada na capital, Salvador, até a sua saída do comando para concorrer a prefeitura da capital baiana. Ela fica no Distrito Integrado de Segurança Pública (DISEP) onde há um muro grafitado com frases como: "Você não é culpada: lugar de mulher é onde ela quiser" ou "Cuide-se! Você é uma guerreira!"
"Precisamos fazer uma revolução na polícia"
A criação da ronda vem de uma convicção que Denice repete com voz apaixonada: "A missão constitucional da polícia é preservar a ordem pública. E isso significa educar e proteger a sociedade e prevenir o crime. O combate faz parte do nosso trabalho, sim. Mas, toda vez que um crime acontece, a polícia falhou. A ronda tem esse papel preventivo. Nesses anos, ela tem sido esse lugar de aproximação humana da corporação com a sociedade. Eu acho que ela humanizou a polícia, mas tem muita coisa para fazer.
A polícia ainda é uma organização doente. Precisamos fazer uma revolução na polícia. É possível que um PM entre na sua casa, sente na sala, converse e fique tudo em paz. É possível que a relação com a polícia dentro do lar não seja só pé na porta e violências institucionais, como as que sofrem pessoas nas periferias. É possível que a polícia fale com alguém, toque em alguém, sem que isso aterrorize. Eu não vou entrar em um bairro carente em Salvador de uma forma e, em um bairro rico, de outra. Tem que ser igual. O lugar onde a pessoa vive não pode determinar a forma como ela vai ser tratada. Agir assim é uma atitude higienista, de extermínio. Eu não consigo entender e aceitar que seja diferente. E eu acho que a Ronda é uma estrutura que permite essa interação humanizada entre policiais e a sociedade e devemos ampliar a experiência."
Denice não está sozinha em suas convicções. Os policiais que compõem a ronda se voluntariam para integrar o serviço. "Eles se dispõem a trabalhar com algo que não conheciam, diferente do que está culturalmente aprisionado neles. E fazem com muito comprometimento! Eu já vi caso aqui de uma policial sair logo cedo para fazer uma perseguição que foi até cinco horas da manhã do outro dia, sem parar, até encontrar o cara que fez barbaridades com a mulher, com requintes de crueldade. Isso é muito comprometimento!", conta, com a voz embargada.
Para manter o equilíbrio, Denice não descuida da saúde. Faz psicanálise e tenta, sempre que possível, encarar a vida com leveza. "Outro dias, estávamos em um encontro das outras rondas, de 16 estados. Eram mulheres e homens que trabalham com violência doméstica. E aí teve uma parte sobre autocuidado. A psicóloga perguntou o que fazemos para cuidar da gente e pediu para escrevermos em um papel. Aí eu coloquei lá: 'falo besteira'. Eu preciso o tempo todo ter um cuidado interno e externo", diz.
A PMBA perde com a sua saída para a vida política, mas a sociedade ganhará. É a mulher na busca do seu espaço no cenário político.
Que venham várias Denices para compor e modificar o sistema político e de assistência e prevenção social.
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